Nossa colaboradora Carolina Gregorutti, que é Terapeuta Ocupacional e Doutoranda em Educação pela UNESP/SP, escreveu para nós uma SÉRIE DE TRÊS ARTIGOS SOBRE FAMÍLIA E AUTISMO. Aí vai o segundo da série!

 

AUTISMO, PROFISSIONAIS E FAMILIARES: COMO SE FAZ UMA PARCERIA?

Escrever para familiares é sempre um prazer e a devolutiva é sempre o sentimento mais verdadeiro e intenso que recebemos. Portanto, não há receita de bolo. Uma das vantagens de atender diversas pessoas com autismo é que a gente aprende não só a olhar para eles de forma singular, mas também de aprofundar no universo deles de forma intensa. Sobretudo, aprendemos a respeito das mudanças deles. Quando você os conhece são de um jeito, suas famílias também. Anos depois, todos nos tornamos outra coisa, bem melhor. A transformação é intensa ao longo do tratamento e assim permanece profundamente. Estar em contato com o autismo é necessariamente uma oportunidade de evolução e maturidade pessoal. Portanto, não é tarefa impossível, mas é tarefa para quem está verdadeiramente disponível. A necessidade de valorização destas famílias vem exatamente da sensibilidade a estas reflexões. Para os iniciantes deste universo, pode representar uma tarefa estranha, difícil ou até impossível, mas asseguro com toda certeza, o convívio e o aprendizado superam qualquer sentimento e estranheza. A parceria com a família, se bem realizada, acalma e conforta. Na universidade, eu me espantava quando a docente dizia que o próximo atendimento era junto a uma criança com autismo e que sua mãe estava me esperando. Eu achava impossível conseguir trabalhar com eles. A minha descoberta, que precisaria acontecer, estava definida de antemão: eu só precisava relaxar e confiar! Percebem como se faz a parceria? Na ausência de regras para aprendermos a lidar com a criança com autismo, os profissionais podem ter espaço para inventar a si mesmos, fortalecendo parcerias e se especializando ainda mais. É um processo intenso e eu acredito que dura a vida toda e vai muito além das paredes das clínicas e que se nota nos atendimentos de forma espetacular. Quando o profissional da equipe multidisciplinar ganha graus ascendentes de liberdade e de profundidade junto aos familiares, refletindo o que se passa na vida daquela criança com autismo e na dinâmica daquela família, torna-se algo intenso e muito mais feliz atende-los. As experiências vão se sucedendo e este nosso aprendizado é a receita de sucesso mais garantida para ofertarmos responsabilidade e alegrias junto aos familiares de pessoas com autismo. São eles que irão acompanhar a criança com autismo na trajetória escolar, social, familiar e parecem moldar a personalidade da criança de maneira pessoal e direta, reforçando assim a particularidade e a importância desta relação. A palavra chave é flexibilidade! Tendo participado de algumas mudanças na vida de crianças com autismo, eu só posso agradecer o privilégio e permanecer ao encontro do refinamento destas parcerias. Minha própria vida ficou mais interessante e rica e eu mesma fui forçada a modificar, a adaptar, a acreditar, a buscar conhecimento, a me fortalecer e a olhar para os familiares com mais amor. Obviamente isso não significa que todos os tratamentos são um grande sucesso e vão durar para sempre, mas algo deles sempre fica em mim – como aprendemos com o filósofo, temos a certeza de que somos capazes de afetar a vida dos outros e de ser afetados por eles. A graça de ser cúmplice e poder auxiliar um milagre transitório e privado que é o desenvolvimento do autista, não aconteceria sem o real entendimento de partilha. Seguimos...

 

Carolina Gregorutti - Carolina Cangemi Gregorutti - Terapeuta Ocupacional (CREFITO 11/13221-TO), Mestre e Doutoranda em Educação Especial pela Universidade Estadual Paulista – UNESP. Contato: https://www.facebook.com/T0CarolGregorutti;

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